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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Descobrindo emoções



Eu sei, queridos leitores, que vocês detestam textos longos e sei também que 90% das pessoas que lerem essa introdução não chegará ao fim dessa leitura, mas eu tenho fé que 10% de vocês terá paciência para ler tudo por que só 10% de vocês esta preparado para o que irão encontrar nas próximas linhas.
O que vou escrever aqui talvez não tenha nenhum valor cientifico, talvez não seja um texto eloquente, talvez não esteja dentro dos padrões dialéticos ensinados nas academias,  mas é a mais pura expressão de uma alma que hoje aprendeu a lidar com algo que parece, a primeira vista, bobo mas que pode mudar a vida de uma pessoa.
Eu sempre achei que demonstrar sentimentos fosse um sinal de fraqueza, por algum motivo, que eu não consigo lembrar, meu subconsciente aprendeu a esconder sensações e sentimentos que são aparentemente normais na vida de qualquer ser humano. Por exemplo, quando eu era criança e mamãe me punia por algo que eu havia feito de errado eu não chorava, eu a encarava, com olhar de ódio. E talvez fosse realmente ódio o que eu sentia, eu não chorava, eu não falava, eu apenas  olhava para ela, aquilo enfurecia minha mãe que acabava me castigando ainda mais. Eu passei a vida toda fazendo isso, olhando os problemas e as pequenas frustrações da vida sem expressar sentimento algum, como se aquilo fosse normal.
Eu, sem querer, sem saber guardei cada pequena ofensa dentro de mim, uma palavra exaltada do meu pai, um olhar de desdém de uma coleguinha da escola, uma nota baixa dada por uma professora, cada coisinha que não me agradava era arquivado em meu subconsciente, cada sensação de raiva, insatisfação, ódio, medo, dor era arquivado em mim.
Talvez você questione “como uma garota de 23 anos pode ter tanta mágoa acumulada assim?”, eu lhe explico, nos guardamos em algum lugar da nossa memória tudo o que passamos, tudo o que reprimimos é levado para um lugarzinho escondido de nosso cérebro e fica lá por anos e anos, a medida em que vamos crescendo e amadurecendo nossa personalidade é moldada de acordo com esses fragmentos de emoções não expostas.
Ficamos frios, violentos, calculistas, egoístas, passamos a ignorar as emoções dos outros como ignoramos as nossas próprias emoções, negligenciamos a nós mesmos, assinamos nosso atestado de óbito prematuro sem saber.
Depois que eu passei por aquela cirurgia eu decidi que estava na hora de me permitir, decidi que eu tinha o direito de sentir, de dizer eu te amo, de ouvir eu te amo, decidi que tinha o direito de ter emoções e que isso não fazia de mim um ser fraco, ao contrario fazia de mim uma grande mulher.
Eu descobri que não sabia sentir, quando eu saí do hospital, eu estava feliz, muito feliz, feliz por não ter câncer, feliz por ter sobrevivido, feliz por saber que aqueles meses de terror haviam acabado, mas até eu descobrir que aquele sentimento que eu estava sentindo era felicidade  quase tive uma crise de pânico. Eu tremia, suava, chorava, não conseguia entender que sentimento era aquele, só após alguns minutos foi que me dei conta, aquilo era felicidade.
Mas o que quero compartilhar com vocês foi o que vivi hoje, a poucas horas.Eu estou sem dormir a dois dias, já tomei calmantes, já tomei chá, já fiz meditação, fiz tudo o que eu sabia que poderia me dar sono,  foi em vão. Um sentimento novo surgiu em mim e eu não conseguia identificar o que era. Pedi a minha mãe que me deixasse tomar um banho, (foi a primeira vez que tomei banho sozinha depois da cirurgia). Mamãe colocou uma cadeira debaixo do chuveiro e eu me sentei, deixei a água correr sobre meu corpo, comecei a pensar, “por que estou sentindo ódio? Por que estou com raiva? Ninguém me fez mal, não há nada com o que me preocupar de onde vem tanta raiva?”
Foi então que percebi que aquilo que eu estava sentindo era um acumulado de anos de lágrimas contidas, de raiva, de ódio e toda sorte de sentimentos ruins que eu escondi no mais profundo de minha alma.
As lágrimas começaram a rolar, a água estava levando de mim anos de silencio, anos de rancor que eu sem querer havia guardado.
Eu ainda estou aprendendo a lidar com meus sentimentos, ainda não consigo liberar minhas emoções, mas a experiência que tive hoje foi libertadora.
Você pode estar se perguntando por que eu estou escrevendo tudo isso, bom eu acho que não sou a única que esconde o que sente pra se defender do mundo. Acredito que não sou a única que sorri pra não chorar, tenho a mais absoluta certeza de que nada é por acaso. Se você está lendo isso aqui talvez precise, assim como eu, aprender a sentir a si mesmo antes de sentir o outro. 
Estamos tão preocupados em não decepcionar, em sermos tudo o que sonhamos ser que esquecemos que pra viver um grande sonho precisamos trilhar caminhos difíceis, não olhamos para as dificuldades como algo que nos faz crescer, mas aceitamos cada coisa que nos é imposta como um castigo cruel do destino.
Quando aprendemos a conhecer nosso “Eu” tudo começa a fluir com naturalidade, e nós descobrimos que não era tão difícil assim quanto imaginávamos.

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